Curbing the curve

🚨Aviso
Tenho publicado na cronologia do Facebook vários desenhos sobre a evolução do número de casos confirmados de COVID-19, nomeadamente em Portugal. O post de ontem foi partilhado por vários utilizadores e teve comentários dizendo que eu estava a fazer um "bom trabalho estatístico", outros dizendo que todos os dias vinham ver o meu desenho. Há até quem me 'peça' previsões... Ora, sobre isto, eu tenho de deixar um aviso: alguns OCS publicaram estudos de e entrevistas com pessoas que sabem do assunto, que trabalham na Escola Nacional de Saúde Pública e nas faculdades de medicina. Se querem ver trabalhos competentes, é esses que devem procurar!
Das minhas actividades lectivas, fazem parte 'cadeiras' de Análise de Dados. Digo sempre aos alunos na primeira aula que a construção e a análise dos dados têm de ser orientadas por modelos teóricos. Eu tento que os alunos aprendam a empregar algumas técnicas de análise subjugadas a modelos baseados em teorias (maioritariamente psicológicas e/ou económicas) que têm utilidade para problemas de Gestão. Não sei nada de teorias sobre vírus nem sobre saúde pública! A única coisa que sei é que uma doença com esta forma de contágio, na ausência de medidas de contenção ou de supressão, tem um comportamento de propagação que pode ser representado por uma curva (função) logística, que conheço 'doutros campeonatos', visto que também pode ser utilizada para representar vários comportamentos estudados em Gestão.
🚸Motivação
Sabendo o comportamento da curva que mencionei acima, sei que, pouco tempo depois de aparecerem os primeiros casos, há uma fase de crescimento exponencial de infectados. Isto significa que rapidamente se chega ao ponto em que muitos doentes (mesmo muitos!) morrem por falta de capacidade de resposta de cuidados especializados. Sabe-se que o fecho proactivo das escolas é uma das intervenções mais poderosas para combater epidemias. Por maioria de razão, o fecho das universidades era um imperativo logo no início da fase exponencial. Nas universidades, é comum os estudantes estarem apinhados nas aulas. Há também grande concentração (e filas de espera compactas) nos bares e refeitórios. Os estudantes vêm das mais diversas proveniências geográficas, comutando semanalmente. Há ainda muitos estudantes que vieram do estrangeiro (incluindo da Lombardia!) em meados de Fevereiro, ao abrigo do Programa Erasmus. Há os intermináveis exercícios de praxe e há a diversão nocturna. É difícil imaginar um ambiente mais explosivo para a propagação da doença, do que o universitário! Neste contexto, quando a curva logística me aparecia em flashes, o CRUP defendia que "não há razões de saúde pública que justifiquem o encerramento das instituições universitárias". Fiquei revoltado, não posso escondê-lo, e comecei a prestar atenção aos números que iam saindo aqui e nos países que estavam mais à frente na curva. Fiz muitas publicações que alguns consideraram alarmistas, mas que apenas resultavam desta motivação de mostrar que havia uma alternativa a deixar a curva seguir o seu caminho.
📈 Vamos lá então ver as curvas
Este gráfico mostra a evolução "teórica" de uma curva logística com um tecto muito optimista, considerando que apenas 40K portugueses seriam diagnosticados no fim deste ciclo. A seta indica o ponto em que estamos. O valor de ajustamento dos dados reais hoje divulgados (ou seja, correspondentes ao fim do dia de ontem) é de 0.99 (i.e. a curva consegue "explicar" os dados dos 20 dias anteriores com apenas 1% de erro). A má notícia é que o ajustamento é quase o mesmo se eu subir o tecto para valores muito superiores (aos quais teremos de chegar, mas noutros ciclos).



É fácil entender que, se não tivéssemos restrições eficazes, o número de casos diários ainda aumentaria muito, antes de começar a diminuir. É por isso que se justifica fazer o possível para dar ali umas 'marretadas' na curva, arranjando uma forma de distribuição mais agradável. Já foram aplicadas muitas medidas, sendo expectável que outra curva se esteja a desenhar. A este respeito, acredito que "pessoas que sabem do assunto", como referi acima, estejam a ajudar quem tem de decidir, com muita informação que o comum dos mortais não tem e com conhecimento na matéria que eu não tenho nem pretendo ter. Espero sinceramente que permitam aos decisores aprender com o que se passa nos países que estão mais à frente na curva.

Posto isto, faço alguns comentários descrevendo os dados, mas não convém abusar nos palpites. O gráfico abaixo é a actualização do que publiquei ontem. A 'olhómetro' percebe-se que o número diário de casos diagnosticados continua a crescer, mas a uma taxa ligeiramente menor do que no início da semana.



Esta tendência pode ver-se melhor no gráfico seguinte, que apresenta, desde 10/mar, o crescimento médio diário por referência ao terceiro dia anterior. Apesar de o crescimento estar a níveis elevados, já foi pior... e é de esperar que abrande ainda mais, em consequência de muita gente ter optado por estar em casa. No entanto, como tenho dito, "estes dados são uma soma de diferentes regiões que estão a passar por isto a diferentes velocidades". Vamos ver os próximos dias...




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