Recebi mensagens de algumas pessoas perguntando porque deixei de desenhar curvas. A resposta já tinha sido dada quando comuniquei essa decisão. Admito voltar às curvas, nomeadamente sobre o número do mortos, quando este atingir um valor que torne a evolução comparável com os nossos vizinhos. Hoje resolvi mostrar com um desenho (mais abaixo) porque "não vale a pena gastar tempo com isto".
Antes, actualizo o desenho que criei com os dados do dia 22. Confira este post se quer saber os motivos e a metodologia do desenho. É evidente que a curva portuguesa está a crescer menos do que a italiana e bastante menos do que a espanhola. Ou seja, como eu disse a propósito dos dados do dia 22, estamos a "segurar" a curva: temos, neste 13.º dia após os 150 casos, um pouco menos do que Itália tinha ao 12.º e consideravelmente menos do que Espanha tinha ao 10.º.
É de supor (mais do que isso, desejar!) que este "atraso" se deva ao confinamento que uma parte da população tem seguido, após a suspensão das aulas. Independentemente do que vou dizer a seguir, o confinamento deve continuar (e melhorar-se!) para evitar que a curva 'expluda'. Mas não há certezas sobre qual a parte do "atraso" que se deve a esse efeito. O que se tem passado esta semana com os dados divulgados pela DGS retirou credibilidade à série. Não tenho quaisquer dúvidas de que os resultados estão influenciados pela política restritiva de testes e ainda por ruído inexplicável na série.
Há um hiato entre a realização dos testes e a notificação dos resultados. Parece que, na maior parte das vezes, a notificação ocorre no dia seguinte. Pode levar mais tempo, se houver menos certezas no resultado. O gráfico abaixo representa, desde que ultrapassámos os 100 casos acumulados, o número diário de notificações (colunas, eixo da esquerda) e a percentagem de notificações positivas (linha, eixo da direita).
Ora, no final da semana passada, quando o número de casos diários andava na ordem dos 300, tínhamos quase 2000 notificações. Agora, com mais do dobro dos casos diários, temos menos notificações. Dito de outro modo, o que justifica que ontem e hoje tenhamos um reporte de mais de 60% de casos positivos, quando o normal tinha sido cerca de 20%? A resposta mais plausível é que não havia capacidade instalada para realizar testes e, obviamente, o crescimento do número de casos ficou condicionado a essa capacidade. Mas isso não explica tudo. É aberração a mais para uma explicação tão simples.
Estando fora do sistema, não tendo confiança nos dados, "não vale [mesmo] a pena gastar tempo com isto".
P.S. A quebra de confiança é agravada por uma habilidade da DGS relativamente ao reporte de casos por concelho. Tem sido divulgada uma distribuição concelhia que apresenta um número de casos muito inferior aos confirmados. Aparentemente, esses números têm dias de atraso. Para não se perceber o alcance dessa deficiência, a DGS escuda-se num suposto "segredo estatístico", não revelando os concelhos onde há menos de três casos, "por motivos de confidencialidade". Aldrabice pegada, porque, na maior parte dos casos, o próprio município e/ou o ACES divulga/m essa informação e faz/em-no com actualizações diárias.
Antes, actualizo o desenho que criei com os dados do dia 22. Confira este post se quer saber os motivos e a metodologia do desenho. É evidente que a curva portuguesa está a crescer menos do que a italiana e bastante menos do que a espanhola. Ou seja, como eu disse a propósito dos dados do dia 22, estamos a "segurar" a curva: temos, neste 13.º dia após os 150 casos, um pouco menos do que Itália tinha ao 12.º e consideravelmente menos do que Espanha tinha ao 10.º.
É de supor (mais do que isso, desejar!) que este "atraso" se deva ao confinamento que uma parte da população tem seguido, após a suspensão das aulas. Independentemente do que vou dizer a seguir, o confinamento deve continuar (e melhorar-se!) para evitar que a curva 'expluda'. Mas não há certezas sobre qual a parte do "atraso" que se deve a esse efeito. O que se tem passado esta semana com os dados divulgados pela DGS retirou credibilidade à série. Não tenho quaisquer dúvidas de que os resultados estão influenciados pela política restritiva de testes e ainda por ruído inexplicável na série.
Há um hiato entre a realização dos testes e a notificação dos resultados. Parece que, na maior parte das vezes, a notificação ocorre no dia seguinte. Pode levar mais tempo, se houver menos certezas no resultado. O gráfico abaixo representa, desde que ultrapassámos os 100 casos acumulados, o número diário de notificações (colunas, eixo da esquerda) e a percentagem de notificações positivas (linha, eixo da direita).
Ora, no final da semana passada, quando o número de casos diários andava na ordem dos 300, tínhamos quase 2000 notificações. Agora, com mais do dobro dos casos diários, temos menos notificações. Dito de outro modo, o que justifica que ontem e hoje tenhamos um reporte de mais de 60% de casos positivos, quando o normal tinha sido cerca de 20%? A resposta mais plausível é que não havia capacidade instalada para realizar testes e, obviamente, o crescimento do número de casos ficou condicionado a essa capacidade. Mas isso não explica tudo. É aberração a mais para uma explicação tão simples.
Estando fora do sistema, não tendo confiança nos dados, "não vale [mesmo] a pena gastar tempo com isto".
P.S. A quebra de confiança é agravada por uma habilidade da DGS relativamente ao reporte de casos por concelho. Tem sido divulgada uma distribuição concelhia que apresenta um número de casos muito inferior aos confirmados. Aparentemente, esses números têm dias de atraso. Para não se perceber o alcance dessa deficiência, a DGS escuda-se num suposto "segredo estatístico", não revelando os concelhos onde há menos de três casos, "por motivos de confidencialidade". Aldrabice pegada, porque, na maior parte dos casos, o próprio município e/ou o ACES divulga/m essa informação e faz/em-no com actualizações diárias.
Comentários
Enviar um comentário